quarta-feira, 16 de junho de 2010

Tá lá um corpo estendido no chão...

Ontem estava dirigindo em direção ao trabalho, apressada como sempre. Foi quando notei pessoas na pista acenando, uma pessoa caída no chão e uma bicicleta destroçada...
Por instinto ou qualquer coisa assim, parei o carro para ajudar...O garoto, de uns 17 anos, estava no chão, sangrando muito, inerte, olhos abertos, paralisados no pânico.
Um carro viera em alta velocidade, como tantas outras pessoas que passam por ali estão, inclusive eu, e o garoto que seguia com sua bicicleta ao trabalho, e atravessou a pista sem parecer atentar-se ao trânsito...
Um minuto e ele não vai mais chegar ao trabalho, um minuto e o menino que veio da Bahia trabalhar com seu pai, não vai mais voltar ao lar...
Não pude fazer nada, apenas chamar o SAMU e acolher o primo da vítima que estava ali, inconsolável, perdido naquele espaço de tempo tão breve, que separa a vida da morte.
“A gente assistiu filme ontem a noite” O primo me disse.
Eu permaneci firme durante o tempo todo, capaz de suturar, se fosse o caso...mas só eu sei a impotência que senti, a vida simplesmente vai embora...
Não me coloquei no lugar daquele rapaz no chão, minha realidade me coloca longe disso tudo, mas pensei: E se fosse eu o motorista daquele carro? De que valeria minha pressa por chegar minutos mais cedo no trabalho, como tantas vezes faço? A gente corre sem sequer olhar pros lados, olha fixo na estrada adiante, espiando os carros apressados pelo retrovisor. A gente brinca de corrida, se alguém ultrapassa a gente xinga, e ah...esses pobres coitados trabalhadores, andarilhos, bicicleteiros, eles que fiquem atentos! Porque no conforto do meu carro eu me protejo e se alguém é vulnerável, esse alguém são eles, eles que se atentem!
Mas aquele garoto no chão era eu, era meu irmão, era o mundo inteiro, ou talvez o Brasil, com toda sua injustiça e desatenção. Essa terra em que só alguns tem vez, em que os trabalhadores braçais, são como que entidades espirituais...quase ninguém vê, e quando vê, olha desconfiado, e pensa: “quanto terá me custado essa sua aparição?”

3 comentários:

  1. Bonita, me lembrei de algumas coisas que já escrevi, com essa mesma linha de pensamento. Dá uma olhada nesses posts:

    http://incensodepitanga.blogspot.com/2009/11/buracos-do-corpo.html

    http://incensodepitanga.blogspot.com/2008/11/sobre-umbigos-espritos-e-psicologia.html

    Adoro achar gente pensando como eu. Você tem um coração bem melhor. Eu dificilmente teria parado o carro e consolado o primo... Um dia eu quero ser como você.

    Saudadooona!!!
    Beijos!

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  2. o fia, se a intensão era fazer chorar: pronto!
    se fiquei assutado quando contou, agora, deu só aquele aperto no peito. E chorei... Eu fiquei com a vontade de que estivesse com você lá pna hora ra não deixar você passar por aquilo sozinha.
    abraço
    wederson

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  3. Obrigada pelo carinho!
    quis na verdade que isso tudo que senti não se calasse...

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