quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Doente de Fé

Dotôra, andam dizendo que eu tô doente de fé...
Depositei minha fé em alguém que é o representante de Deus na terra. Depositei também o meu salário e todo meu tempo.
Quando a fome bate, aumenta minha fé, e ela me sustenta.
Meu marido pensa que sou louca porque falo com anjos...descuidei de mim porque me dizem que não é de Deus, meus filhos choram pela mãe que eu fui, pelo cuidado que já tive, mas o que fazer? Eles me demandam o tempo das minhas orações, e negar a oração é viver em pecado, não posso, simplesmente não posso parar...Quando eles choram, ora mais, pra que eles me entendam, quem sabe não deixem de usar os joelhos pra me rogar atenção e de joelhos possam se dirigir a Deus e agradecer a mãe devota que me tornei...
O representande de Deus me promete o céu, e me fala de salvação, me fala que tudo que eu der a ele, receberei em dobro, por isso dobro meus esforços em trabalhar, em doar...assim, cada dia de fome será compensado, meus filhos desamparados, desgrenhados, de roupas sujas e mal passadas, dormindo pra esquecer a barriga a roncar, terão futuro melhor. As brigas com meu marido solitário, cansado de procurar por socorro em vão, se cessarão. Ele entenderá minha intenção, não me verá mais como insana, reconhecerá minha santidade e então pedirá perdão...
Não dotôra, eu num quero tratamento, deixa tudo assim, que tudo assim tá bom..afinal o sofrimento dignifica, a miséria existe só no coração, e essa fome...nem a sinto de verdade.

sábado, 21 de agosto de 2010

Brasília

Essa cidade estranha,parece até que a rua não é feita pra gente...
Pra gente andar,pra gente viver...
Tudo é separado em setores,como se não se admitisse ver a diversidade misturada.
Essa rua aqui não é em frente a farmácia do seu josé, tampouco você encontra o posto virando a esquina da padaria, aqui é tudo número, e tudo é quadra, nenhuma rua pra homenagear neruda, nenhuma avenida pra comemorar o 7 de setembro, e a saudade nem fica perto da consolação...
As pessoas de tão longe, ficam assim com esse ar distante, na superficialidade de um bom dia de elevador.
Sou mais uma forasteira na cidade planejada, apesar de forasteiro só ser considerado o nordestino, autor da grande obra que é isso tudo...Se o dono da terra fosse considerado aquele que nela cultiva o amanhã, seria alguém mais dono que o nordestino?
Sou do estado que narciso acha feio...mas aqui sou narciso também, porque a capital do Brasil em nada se familiariza com a capital do meu mundo...Mas assim como um baiano se rende a Sampa, me vejo dia a dia sendo arrebatada. E ao me abrir a esse novo, a cidade também abre as portas pra mim...e surgem novos personagens na minha história. É a vizinha que vem tomar chá com minha afilhada cachorra, são as aulas de dança, é uma equipe acolhedora da qual faço parte, são gaúchos que permitem a paulista em seu clã, o cabeleireiro, a manicure...Ah sim, é a família dos almoços de todo fim de semana e apoio em todas as horas.
Aqui, como em todos os lugares do mundo, é preciso cautela, porque num primeiro olhar, pelo estranhamento do novo, pode haver rejeição, e um julgamento precipitado, a gente pode achar que todo canto tá contaminado, por ser sede de corrupção.
Mas um olhar mais delicado, que só o tempo traz, faz olhar o outro lado, uma capital do país só podia ter o povo formado por todos. Cabe aqui também, a luta, a seriedade, o trabalho e a convicção.
E com o tempo descobrimos a amizade, isso claro, se não desistirmos antes!
É um tanto de coisa, uma mistura de tudo, ainda que compartimentada em setores, só pra ter cara de organização.
É seca de meses sem chuva, pra nascer a flor do cerrado. É Brasília, essa beleza bruta...e agora, me sinto em casa!

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Olhar nos teus olhos,
me perder por entres teus desejos,
e no caminho, vida afora,
minha mão alcança teus dedos,
e a boca encontra o beijo...
Deixa o beijo ser,
confidente da nossa vontade,
deixa o caminho ser,
o espaço da nossa saudade...
Que alargo o passo,
enquanto desaceleras o teu,
e afrouxa em nós,
os nós de tanta ausência,
sempre tão marcada,
na memória de nossa presença.
E enquanto os dias insistem,
em marcar a falta,
o sábio tempo,
grava o que há de permanecer.
fica nos olhos,
pra quem com o coração sabe ver,
a imagem da infinita beleza,
da comunhão dos sentimentos,
eu e você.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

PAZzzz

Paz não é sonolência,
esse dormir e acordar,
sem se dar conta do dia.
Paz nada tem a ver com inércia,
e nem mesmo existe só no silêncio.
Paz pode existir na euforia,
e de mãos dadas a alegria,
sai dançando pelo mundo...
Porque a paz...
ao menos a minha paz...
eu encontrei na aceitação,
ela aconteceu no momento em que acolhi,
todo o universo que existe em mim.
Não há incoerência no diverso,
há sim, uma harmonia na comunhão de todas as coisas.
É o medo e a força,
parceiros de jornada.
Sorriso e lágrima brotando no mesmo lugar...
É o amor cuidando da dor,
em cada espaço do vazio da solidão,
que brinca faceira de ser solteira,
e já não se sente só,
por estar comigo,
aninhada a mim, sem me incomodar.
Paz é a música que silencia o coração.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

TPM

Antes era euforia,
agora TPM,
antes alegria,
agora um ser carente,
antes o copo, o vinho, o viço,
agora o copo, o vidro, o vício,
de todos os meses a companhia,
TPM essa velha amiga rabugenta,
não quer sair,
não quer ficar só,
xinga o mundo e quer docilidade de volta,
É assim, essa minha amiga,
ela vai embora e chego a ter saudade dela,
mas ela vai embora,
e ah...
inda bem que ela vai logo!